A Narração III

Narrativa: Além dos fatos, perto da vida


“Há muito tempo, os deuses navajos organizaram uma grande cerimônia de cura. ‘Que caminhemos na beleza’, cantavam todos, pedindo que estivessem em harmonia com a terra onde viviam. Mas alguma coisa andava errada: duas canções soavam ao mesmo tempo, duas canções em idiomas diferentes. Ao perceber o que acontecia, a Mãe-Terra resolveu congelar a cerimônia. Transformou todos os deuses em rochas e os aprisionou para sempre no espaço e no tempo. E tudo caiu no silêncio.”


BARTABURU, Xavier. Era uma vez no Oeste. In: Revista Terra. n.3. 119. Ed. Ano 11, mar. 2002.

Nota: Navajo - povo indígena da América do Norte.





Há, nos Estados Unidos, uma formação rochosa em que quatro estados (Utah, Colorado, Arizona e Novo México) se encontram. Ela é chamada de Four Corners (Quatro Cantos, em inglês). Para explicar a sua criação, os índios navajos criaram a história apresentada.




Desde o inicio dos tempos, o ser humano usa as narrativas para refletir sobre o mundo em que vive. Quando ainda não tinha os conhecimentos científicos necessários para explicar uma série de fenômenos da natureza (terremotos, vendavais, amanhecer, anoitecer etc.), criava histórias nas quais a ação dos deuses era vista como causa do fenômeno que não se conseguia compreender.


Voltando ao texto dos Navajos, observamos que a ‘Mãe-Terra’ congela os deuses no espaço e no tempo para formar o Monument Valley (região onde se encontram os quatro cantos). Essa ação não pode ser comprovada cientificamente, mas permanece até hoje na memória de um povo como narrativa da origem de uma região.


Um geólogo (cientista que estuda a origem, a história e a estrutura da Terra) apresentaria a hipótese de que essa região foi formada pela ação do vento e da neve, os quais, ao longo de milhares de anos, abriram as grandes fendas nas pedras e criaram a paisagem característica do Monument Valley.

Embora hoje se possa recorrer à ciência para explicar fenômenos como esse, os Navajos permanecem fiéis à cultura de seu povo e continuam a entoar a oração de cura que, segundo a história, foi cantada pelos deuses no momento da formação do vale:

Que haja beleza à minha frente
Que haja beleza por trás de mim
Que haja beleza acima de mim
Que haja beleza dentro de mim

Que eu possa caminhar sempre na beleza.


BARTABURU, Xavier. Era uma vez no Oeste. In: Revista Terra. Março de 2002, ano 11, nº3, edição 119.


A narrativa tem desempenhado, ao longo dos tempos, a função de preservar os costumes de um povo, de transmitir suas características culturais, de permitir a reflexão sobre o comportamento humano.

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